No âmbito do calendário do chamado “regresso à normalidade” as creches vão abrir já a 18 de maio. Se a evolução da pandemia continuar a fazer-se de forma positiva, o pré-escolar, dos três anos até à entrada na escolaridade obrigatória, deverá abrir cerca de duas semanas depois, no dia 1 de junho. A partir desta altura, e a confirmar-se a manutenção da curva epidemiológica, o Estado cessa o apoio para que os pais fiquem em casa com as crianças.
Sabemos que as crianças em idade pré-escolar, pelas suas características, não acatam de forma eficaz, medidas de saúde pública.
A Direção Geral de Saúde está a preparar normas rigorosas para serem implementadas pelos profissionais que lidam com estas crianças, a serem publicadas brevemente, para que quando as creches forem abertas se minimizar o risco. Vai também proceder-se à testagem de TODOS os profissionais das creches, cerca de 29000, até à sua abertura. Apesar de extremamente reduzido, o risco nunca será zero, mas tudo será feito para o controlar. A preocupação com os mais idosos, os avós, deve manter-se e até ser incrementada, uma vez que as crianças, até agora no domicílio, poderão ser veículos de transmissão.
É normal que os pais de crianças desta faixa etária estejam preocupados, mas os factos conhecidos até à data, não só em Portugal como em todo o mundo são muito tranquilizadores.
Assim vejamos qual a experiência que temos recolhido no Hospital Pediátrico de Coimbra:
- A taxa de infeção por COVID-19 é muito baixa na criança em geral e mais ainda em pré-escolares.
- A maioria das crianças detetadas com coronavírus estão assintomáticas e o diagnóstico foi feito quando ocasionalmente foram testadas antes de fazerem certos exames radiológicos ou certos tratamentos cirúrgicos.
- Os poucos casos que se infetam e têm sintomas, recuperam no domicílio e não necessitaram de qualquer tratamento hospitalar.
- À data não há qualquer criança internada no Hospital pediátrico por Covid-19.
- A mortalidade por Covid-19 abaixo dos 40 anos em Portugal é ZERO e abaixo dos 50 é residual e limitada a situações de risco (obesidade, hipercolesterolémia, hipertensão arterial, diabetes, problemas respiratórios crónicos, etc.).
- A maioria dos pais de crianças desta faixa etária estão abaixo dos 40 e portante têm baixíssimo risco.
Por tudo isto, a abertura das creches parece ser bastante segura para as crianças e para os pais, devendo a principal preocupação dos pais, ser o risco de eventual contágio a pessoas ou familiares acima dos 50, particularmente se portadores de condições de risco.
Dr José Boavida Fernandes
Pediatra do Centro de Desenvolvimento Luís Borges
Hospital Pediátrico de Coimbra (CHUC)